Loading...

Sob o domínio do Medo

Sob o domínio do Medo

Viver no Brasil nunca foi sinônimo de vida fácil. Nos últimos tempos, no entanto, soma-se cada vez mais às mazelas do dia a dia uma palavra que por si só já invoca medo: violência. Não bastassem os já amplamente praticados atos de latrocínio e homicídio, o cidadão comum agora é também vítima de crimes bárbaros, muitas vezes sem nenhum tipo de objetivo a não ser o de espalhar o terror.

Já é grande o número de pessoas que já não sai de casa, tem medo de usar o mais simples relógio em público, vive em total estado de paranóia em relação a si, aos filhos, aos parentes e amigos. A população brasileira vive cada vez mais assustada com a violência desde o começo deste novo século.
É possível viver em permanente estado de medo? Ou uma pessoa deve reagir contra seus próprios temores? É possível conviver de maneira saudável em meio a tanto medo? Não estaria o temor se transformando em um grande aliado dos criminosos, somando forças ao inimigo?

Sentir medo em decorrência da violência que nos cerca é uma resposta saudável à realidade. É preciso, porém, desenvolver reações realistas aos perigos possíveis da sociedade e tomar as medidas necessárias para se reduzir os fatores de medo. Quando começamos a agir baseados unicamente em um medo, podemos tomar decisões nada saudáveis e pouco efetivas. Se uma pessoa experimenta o medo a ponto de se sentir realmente sem saída no mundo, ela pode lidar inteligentemente com suas reações e perceber que seus temores são apenas ansiedades que a distraem e não a deixam perceber que pode haver situações em nossas vidas nas quais estamos realmente em grande perigo e muitas vezes indefesos.

Como podemos fazer isso?
Precisamos prestar atenção ao poder que nós temos. Treinar a nós mesmos para reduzir nosso estresse, meditar, praticar auto-hipnose, fazer exercícios psicológicos baseados em nossa neurobiologia, procurar crescimento espiritual, aumentar as habilidades psicológicas para processar situações traumáticas quando elas acontecem sem desenvolver PTSD (Síndrome de Desordem Pós-Traumática). Tudo isso pode melhorar a qualidade de vida e reduzir os medos.

Se é impossível não ter medo, como se deve viver com ele de maneira saudável?
Medo, dor, raiva… tudo isso é parte do ser humano. Para não se experimentar medos realistas, uma pessoa teria que se dissociar da humanidade e conseqüentemente responderia à vida de maneira nada saudável. O que temos de fazer é encontrar modos produtivos de lidar com nossos medos e enfrenta-los. A auto-hipnose, ao integrar a mente, o corpo e a alma, é uma habilidade que ajuda a tolerar e entender situações que às vezes são intoleráveis em uma situação normal. Desta forma, nos ajuda a equilibrar a vida em uma sociedade violenta. Muitas estratégias Ericksonianas nos ajudam a atingir um equilíbrio próprio que nos leva a lidar melhor com as coisas boas e ruins que acontecem em nossas vidas. Coisas boas e ruins que acontecem em nossas vidas.

Como uma vítima de violência pode superar seus traumas e voltar a uma vida normal?
Um trauma rouba nossas perspectivas, alegrias, tranqüilidade e conexões íntimas com os demais e com o mundo. É necessário e totalmente possível curar os danos causados por experiências traumáticas e é necessário caso queiramos retomar nossas vidas por inteiro, de maneira rica e expandida. A hipnose é uma das muitas boas ferramentas que ajudam neste processo. Os traumas quebram nossa habilidade para nos comunicar com o mundo exterior e o interior. Toda boa comunicação é hipnótica e quanto melhor conseguimos dialogar com nós mesmos, melhor conseguimos lidar com as realidades da vida. Um trauma interrompe nosso processo de aprendizado e então passamos a basear nossas decisões em aprendizados incompletos. Se baseamos decisões em informações parcialmente completas, não teremos condições para tomarmos decisões que serão funcionais e, com a repetição deste processo, nos transformaremos em eternas vítimas. Traumas levam à regressões.

Regressões prejudicam a percepção, a vítima pode retornar a uma percepção infantil, o que acaba levando a uma percepção de que o evento traumático ocorreu por culpa da própria vítima. Essa crença incorreta e negativa passa a modelar as respostas da vítima para o mundo. A Hipnose Ericksoniana trabalha para trazer de volta a perspectiva perdida durante a experiência traumática e dissolve o sistema de crenças negativas.

Pessoas que não passaram por experiências traumáticas também temem se tornar a próxima vítima. Muitos passam a ficar mais em casa, evitam sair a qualquer custo, compram armas e aparelhos para se defender. Quanto uma pessoa deve mudar por causa do medo? O que é saudável e o que é paranóia?
Pessoas como estas correm o risco de só aumentarem seus medos e se desconectarem do mundo real… a maioria delas acaba desenvolvendo uma postura paranóica. O medo tem pouca ou nenhuma força quando enfrentado. Viver na sombra do medo só aumenta a possibilidade de se tornar uma vítima no futuro.

Há alguma diferença entre níveis de trauma causados por violência? Uma vítima de sequestro ou alguém que testemunhou um assassinato enfrenta o mesmo trauma de alguém que sofreu um ato terrorista, por exemplo?
Cada pessoa responde de seu próprio jeito específico a um trauma. Traumas ocorrem quando nossa habilidade natural de entender e lidar com um problema é sobrepujada por uma experiência. Uma vez que isso ocorre, tanto o impacto de um seqüestro ou de um ato terrorista resulta em um PTSD.

Considerando-se que qualquer um pode ser “a próxima vítima” da violência, que conselho o senhor daria para um cidadão brasileiro viver melhor e sem medos exagerados?
Uma vez que você adota a mentalidade de uma vítima, se visualisa como “ a próxima vítima”, a probabilidade de se tornar uma aumenta. Levando-se em conta o tamanho da população brasileira, a probabilidade de você ser a próxima vítima não é tão grande. Lembre-se: o que você acredita e apóia internamente tem mais chances de se manifestar exter-namente. É melhor trabalhar em prol de ações que irão mudar as situações reais que contribuem com a violência do que achar que podemos nos esconder dela enquanto as causas sociais permanecem. Há técnicas definitivas (tanto da Hipnose Ericksoniana quanto da resolução neurobiológica de traumas) que melhoram nossa habilidade em passar por traumas e lidar com eles, sem perder a perspectiva e desenvolver um PTSD. Em um mundo no qual o nível de frustração e a violência só aumentam, assim como vamos à academia para fortificar nosso físico e melhorar a qualidade de vida, essas técnicas podem deixar mais fortes nossa habilidade em lidar com traumas e processa-los de maneira mais saudável e produtiva.

Texto extraído da Revista INTERACTIUS 6

2019-08-28T16:28:44+00:00